Categoria: Técnico
(*) Alfredo Bomilcar
Chegamos ao fim de um ano que para muitos demorou a passar, pois foi bastante turbulento e bem movimentado para todos os que estão envolvidos com iluminação. Tivemos um maior amadurecimento para todos os técnicos que estão envolvidos nas certificações, laboratórios, treinamentos e, principalmente, área comercial.
Apesar de todas as dificuldades encontradas durante 2018, as importações cresceram 9% e tivemos a entrada de duas produções locais de lâmpadas LED, fazendo com isso maior pressão nos órgãos certificadores e fiscalizadores. Para 2019, estima-se que tenhamos uma estabilidade nestas importações e, consequentemente, no mercado.
Em se tratando de desafios, algum tempo atrás escrevi sobre a necessidade da velocidade maior na atualização das regulamentações e normas, que não estavam acompanhando o progresso e o crescimento do LED, e gostaria de dizer que, apesar das dificuldades, e de ainda ser preciso maiores esforços, tivemos progressos este ano. Ainda bem tímidos, mas eficazes de maneira a garantir que os produtos disponibilizados no mercado estejam em conformidade com padrões específicos de segurança, desempenho e qualidade previamente estipulados pelos regulamentos e normas.
Entretanto, a despeito dos esforços de fiscalização pelos órgãos competentes, ainda é possível encontrar no mercado brasileiro lâmpadas baratas, com baixa qualidade, não só em termos de desempenho, mas também de segurança, oferecidas por importadores e fabricantes oportunistas.
Muitos produtos já estão melhorando sua qualidade, com novas gerações produzidas e importadas, e com a certificação temos produtos sendo revistos durante as auditorias de manutenção dos certificados obtidos. Outros vêm trazendo novos produtos certificados nesta nova geração, com novos conceitos e custos mais baixos. Esta dinâmica, agora mais rotineira para importadores e fabricantes, demanda um esforço adicional dos órgãos competentes para maior fiscalização, de forma a fazer valer a certificação. Esforços daqueles que trabalham de maneira correta para acompanhar este produto que já se consolidou no gosto do consumidor.
Empresas que colocam no mercado produtos irregulares são corresponsáveis e prejudicam o setor, o consumidor e o País. Denúncias aos órgãos competentes não faltam. Um exemplo de prática ilícita é a interposição fraudulenta de pessoas, a fim de ocultar o subfaturamento do preço de mercadorias importadas, o que acarreta a redução da base de cálculo dos tributos incidentes na importação.
O ilícito fiscal começa na importação e prossegue nas outras etapas da cadeia comercial. Por isso, não é difícil encontrar no mercado lâmpadas comercializadas muito baratas e até abaixo do preço de custo. O resultado é uma concorrência predatória, que mata as empresas que cumprem a lei, geram emprego e renda.
Mas esta situação não é característica exclusiva do mercado brasileiro. Estudos feitos na Europa, pela Lighting Industry Association, e discutidos na reunião europeia com os chefes de conformidade de empresas de iluminação, mostraram uma enorme quantidade de produtos em desacordo com as regras de segurança impostas pelo mercado local. Uma das conclusões deste encontro foi que somente a retirada dos produtos não conformes do mercado não seria suficiente, e que leis e ferramentas mais severas de fiscalização seriam necessárias.
Neste sentido, tivemos neste ano discussões e fiscalizações que tiraram do mercado, não totalmente pela dimensão do Brasil, produtos que estavam sem selos ENCE e em descordo com as normas e portarias vigentes. Acredito que, em um segundo momento, teremos fiscalizações mais rotineiras agora no mercado certificado, por parte dos órgãos competentes.
O importante é que tenhamos produtos de qualidade, desempenho e segurança para os consumidores brasileiros compatíveis com os encontrados em outros países, e que as empresas idôneas tenham um ambiente justo e estimulante para operar.
Mas após então um ano que teve muito a ser descoberto, e que acabou com novos patamares de qualidade, vamos olhar também para frente e ver o tamanho do nosso desafio nesta nova tecnologia.
A iluminação vem mudando e os próximos 12 meses irão definir um período em que o setor deve ir além de oferecer apenas a economia de energia, para entrar realmente no mundo digital, com tudo o que ele oferece.
As últimas feiras europeias e asiáticas mostraram tendências que devem ser observadas em 2019.
Conheçam algumas delas:
– Luminárias deverão apresentar e potencializar maior funcionalidade.
Os novos produtos devem apresentar menores custos, e deverão ter incorporados maior conectividade através de sensores e mudanças de CCT. Expectativas de estares também preparadas para “IoT”.
– Controles serão mais “amigáveis”.
Tradicionalmente os controles de iluminação são as “caixas pretas” eletrônicas da iluminação, e a expectativa é que sejam mais aplicáveis e incorporados às luminárias. As interfaces deverão evoluir e serem padronizadas usando “Bluetooth”. Os algoritmos de controles deverão ser mais populares, aparecendo como padrões nas plataformas de controle.
– Normas para Iluminação de emergência terão novos padrões para uso.
Aprendizado com os recentes acontecimentos na Europa fizeram com que novas normas fossem desenvolvidas, e isso também se aplica ao Brasil, em relação a guias, especificações e regimes de manutenção para iluminação de emergência. Isso muitas vezes não é bem aceito pela indústria, mas se faz necessário e ajuda em novas normas para atender à nova realidade das construções, produtos e aplicações.
– Li-Fi passará a ser adotado.
Expectativa de ver a internet sendo distribuída via luz visível ganhará força no mercado. Recentemente, foi adotado em setores onde os usuários de computador buscam a conveniência do Wi-Fi mas sem suas vulnerabilidades como, por exemplo, velocidade.
– Bluetooth deverá ser um protocolo na iluminação.
Deveremos ter este protocolo como guia para IoT nas lojas, armazéns, escritórios e demais locais de uso.
– Iluminação voltada para “ser humano” (Human Centric) deverá ser melhor estudada.
Atualmente, as instalações descritas como “human centric” frequentemente tratadas como alterações de CCT deverão ter novos termos. Novos desenvolvimentos vêm sendo feitos no sentido de mudar este conceito e poderemos ter mais e mais sistemas realmente voltados ao ser humano.
– Poluição Luminosa deverá ser mais discutida.
Com as novas luminárias LED, as discussões que vem de anos devem ter maior relevância por parte dos órgãos reguladores e clientes, guiando os custos e as temperaturas frias da iluminação LED, comparativamente com a iluminação antiga de sódio.
– Consolidação da indústria de iluminação e suas parcerias
Durante todo este tempo, a indústria, interna e externa, trabalhou visando a um mercado herdado das antigas tecnologias de iluminação. A expectativa é que muitas incorporações de pequenos empreendimentos visem a uma atuação mais abrangente no mundo digital.
Enfim, se as previsões de crescimento e desenvolvimento seguirem otimistas, e orientadas a um novo desenvolvimento para este setor, teremos um novo ano de muito trabalho, novidades e o desafio de seguir acompanhando esta nova e fascinante tecnologia. Afinal, a iluminação também se tornou digital e com isso tem cada vez mais que se adaptar à sua velocidade, em todas as áreas de sua abrangência.
Alfredo Bomilcar é Engenheiro Eletricista, consultor de empresas e Colaborador Técnico da Abilumi.
JAN/19